Na arena de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, um grito ancestral ecoa mais alto que o apito de qualquer árbitro: é o chamado à resistência e à celebração de um povo. A 18ª edição dos Jogos Indígenas Pataxó reúne, até esta quarta-feira (30), mais de 800 atletas de 20 equipes, entre crianças, jovens e adultos da etnia Pataxó e de aldeias convidadas, reafirmando o esporte como expressão legítima de identidade cultural.
A programação tem modalidades tradicionais como arco e flecha, arremesso de tacape, corrida de maraká, corrida de tora, zarabatana, luta corporal, corrida rústica e cabo de guerra formam o eixo central da disputa — todas carregadas de significados que atravessam gerações e territórios.
“Aqui é onde firmamos a cultura do nosso povo”
A frase é afirmada com orgulho pelo cacique Zeca Pataxó, da aldeia Coroa Vermelha. Para ele, o evento é tanto um espaço de disputa esportiva quanto de pedagogia ancestral, onde jovens se veem e se reconhecem como parte de uma história contínua de luta e pertencimento.
Esse sentimento também move Tanara Viana, de 15 anos, uma das jovens atletas da competição:
“Nos Jogos Indígenas, elevamos nossa cultura e reunimos nossos parentes. Não é só uma competição, é um momento de diversão e união do nosso povo”
Organizados pelo Movimento Indígena da Bahia (Miba) e com apoio da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb) — parceira desde a primeira edição, em 2007 —, os Jogos têm ainda um papel estratégico. Os três primeiros colocados de cada modalidade garantirão vaga nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, que serão realizados em Palmas (TO), em outubro deste ano. A Bahia, mais uma vez, será vitrine e berço de talentos que levam sua herança no corpo e na alma.
O encerramento do evento acontece nesta quarta-feira, às 19h, mas antes disso, às 17h, será realizado o tradicional desfile Pataxó — um espetáculo visual e simbólico que exibe a força criativa e estética das confecções indígenas, muitas delas elaboradas artesanalmente nas aldeias.