Enquanto o futebol profissional brasileiro enfrenta polêmicas sobre apostas e manipulação de resultados, o esporte se mantém como uma poderosa ferramenta de união e tradição entre os Mbya Guarani. Essa etnia indígena de Santa Catarina transformou o futebol em um símbolo de sua cultura e convivência, com a criação da Liga Mbya Guarani, que reúne 43 times — incluindo equipes femininas e infantis — e promove competições em várias aldeias.
Organizada pela primeira vez em 2018, a Liga reflete o conceito cultural guarani de *guatá porã* (“belo caminhar”), que valoriza o movimento e o intercâmbio entre comunidades. Para além das fronteiras geográficas, as partidas são momentos de socialização, troca cultural e reafirmação de um estilo de vida que resiste à fragmentação dos territórios indígenas. Segundo o pesquisador Gabriel Pereira, da Unesp, que estuda o tema, o campeonato também contribui para reforçar a soberania cultural dos Mbya Guarani, que utilizam uniformes com elementos tradicionais e promovem encontros regulares entre as aldeias.
Atualmente em sua quinta edição, a Liga é um exemplo de adaptação e resistência cultural. As partidas são realizadas em campos de sete jogadores, para facilitar a participação de aldeias menores, e agora contam com a presença de equipes de outros estados, como Rio Grande do Sul e São Paulo. Além de celebrar os vencedores com troféus e prêmios em dinheiro, o torneio é um espaço de fortalecimento de identidades e conexão comunitária em tempos de desafios territoriais e sociais.