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Na vida

“Várzea”: romance de Valdo Resende revisita o Brasil profundo onde futebol e política se confundem

Escritor usa humor, memória e crítica social para revelar os bastidores da paixão nacional

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O novo romance “Várzea”, lançado por Valdo Resende no último sábado em São Paulo, olha para o futebol brasileiro de um jeito que pouca gente ousa encarar: como palco de disputas políticas, manipulações eleitorais e jogos de poder que atravessam gerações. A narrativa, ambientada na fictícia Guabiru, no interior paulista, parte da simplicidade da várzea para reconstruir o país em plena redemocratização e sob o imaginário mágico da Seleção de 1982.

Resende acompanha Olympio, técnico e leiloeiro que celebra um título regional sem imaginar que, a partir dali, se tornará peça de tabuleiro em uma guerra silenciosa entre grupos políticos locais. O sonho de erguer um estádio — idealizado com sua esposa e sustentado pelo amor ao time — vira moeda de troca em campanhas eleitorais. A partir dessa fricção, o autor projeta questões maiores: como a paixão pelo futebol molda decisões coletivas? Até que ponto os símbolos do esporte servem, também, a interesses que passam longe das quatro linhas?

O romance costura humor, crítica social e uma observação afiada sobre o Brasil do interior. As referências a Garrincha, à cultura popular e ao clima emocional da Copa da Espanha reforçam o espírito de um país que se reinventava politicamente, mas ainda carregava práticas antigas. Guabiru, ainda que imaginária, nasce como um espelho de memórias compartilhadas — a ponto de leitores e artistas que participaram do lançamento destacarem a força desse retrato do “Brasil profundo”.

Ao longo das 320 páginas, Resende revisita temas que marcam sua trajetória no teatro e na literatura: personagens comuns que revelam tensões sociais, ambientes que parecem pequenos mas explicam estruturas maiores, e o uso da sátira como caminho para pensar o país sem perder o sorriso. Ele mesmo resume o desafio: o futebol não é o tema central, mas o fio que expõe como sentimentos coletivos podem ser manipulados com facilidade quando o Brasil entra em campo.

“Várzea” chega às livrarias como um romance que atravessa fronteiras do esporte, passeando por política, memória afetiva, e ficção. Com leveza e ironia, convida o leitor a revisitar não apenas o passado, mas o modo como ainda nos relacionamos com o jogo e com o poder.

Eventos

Lei de Incentivo ao Esporte se torna permanente e redefine o financiamento esportivo no Brasil

O que muda com o novo marco sancionado por Lula, e por que isso impacta crianças, atletas e projetos sociais em todo o país?

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A Lei de Incentivo ao Esporte (LIE) deixou de ser uma política temporária para se tornar parte estruturante do financiamento esportivo brasileiro. A sanção do presidente Lula do PLP 234/2024, nesta quarta-feira (26), no Palácio do Planalto, marca um novo capítulo para projetos que dependem de renúncia fiscal para existir – sendo muitos deles voltados à iniciação esportiva, inclusão social e formação de atletas.

Com a mudança, a política passa a operar de forma contínua. Isso significa planejamento de longo prazo, maior segurança para entidades e uma relação mais clara entre governos, empresas e sociedade civil na gestão dos recursos. É um avanço institucional raro num país em que iniciativas esportivas costumam oscilar a cada ciclo político.

Uma política mais estável e abrangente

A nova legislação atualiza regras, simplifica processos e amplia o alcance dos projetos que podem ser apoiados. A partir de 2028, empresas poderão deduzir até 3% do IR. Além disso, projetos de inclusão social seguem autorizados a alcançar 4%. Pessoas físicas poderão deduzir até 7%.

Esse redesenho coloca a LIE num patamar mais moderno, com critérios objetivos para apresentação, aprovação e prestação de contas. É uma tentativa de dar clareza e previsibilidade a um mecanismo que vinha crescendo, mas ainda sofria com burocracia e limitações legais.

Impacto direto na base e no rendimento

O ministro do Esporte, André Fufuca, destacou que a política já beneficiou mais de 3 milhões de pessoas e movimentou R$ 2,5 bilhões em recursos desde 2023. O caráter permanente fortalece especialmente os projetos de base; onde o esporte funciona como ferramenta de educação, proteção social e descoberta de talentos.

É nesse ponto que a sanção se torna mais simbólica: ela dá às crianças, jovens e atletas de regiões periféricas a chance de participar de iniciativas que antes dependiam de captação instável, quando conseguiam sair do papel.

Modernização e controle

A lei revisada também aprimora mecanismos de transparência, acompanhamento e responsabilização, dois gargalos apontados por entidades e órgãos de controle. O objetivo é garantir que os recursos cheguem de fato a ações efetivas, e não se percam em projetos pouco consistentes.

Ao mesmo tempo, a simplificação das etapas promete facilitar a vida de escolas, ONGs e clubes que trabalham no cotidiano, muitas vezes com estruturas mínimas, mas enorme impacto social.

O próximo passo: transformar norma em prática

Com a sanção, o texto segue para publicação no Diário Oficial e entra em fase de regulamentação. É quando decretos e regras específicas vão definir como a política será aplicada no dia a dia. Se essa etapa for bem executada, o Brasil terá um dos sistemas de incentivo ao esporte mais organizados da América Latina.

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Na vida

Jornalista baiano alcança destaque nacional no Concurso do Museu do Futebol 2025

Memória afetiva de um estádio no interior da Bahia levou Dudu Machado ao Top 5 entre mais de 760 textos

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O jornalista Dudu Machado, de Feira de Santana, colocou a literatura baiana em destaque ao conquistar o 4º lugar no Concurso de Crônicas e Contos do Museu do Futebol 2025, anunciado na última terça-feira (25). A edição, dedicada ao tema “Futebol Sul-Americano”, recebeu mais de 760 textos vindos de autores de diferentes países e em dois idiomas — um retrato da diversidade cultural que sustenta o imaginário do continente.

A crônica premiada, “A América cabe no meu quintal”, revisita o tradicional Estádio Joia da Princesa, palco que marcou a relação do autor com o Fluminense de Feira. No texto, Dudu Machado reconstrói lembranças de arquibancada a partir de um reencontro com o estádio ao lado de um amigo uruguaio: encontro que se transforma num diálogo simbólico entre a identidade do interior da Bahia e a mística que envolve o futebol sul-americano.

“Estar entre os 20 vencedores desse concurso é uma honra, ser o 4º colocado é motivo de muito orgulho. Sonho realizado, feliz por levar o nome da minha cidade para o Brasil.”

resultado destaca a força das narrativas regionais e revela como histórias aparentemente locais podem ecoar de forma universal quando atravessadas pela cultura do futebol. A comissão julgadora reuniu nomes de diferentes frentes do esporte e da literatura: o jornalista Klaus Richmond (Revista Placar), a escritora Luiza Romão, o historiador Matias Pinto e a gestora cultural Renata Beltrão, responsável pela organização do concurso.

Para ler a crônica “A América cabe no meu quintal”, de Dudu Machado, basta clicar aqui

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Artigos

Diversidade no esporte: barreiras, oportunidades e o papel estratégico das marcas

Caminho dos atletas até o alto rendimento segue marcado por problemas estruturais profundos

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por Stefan Santille *

Uma pesquisa de 2023 realizada pela NIX Diversidade em parceria com a Nike revelou um problema persistente no esporte brasileiro: 85,3% dos entrevistados identificam a LGBTfobia como uma chaga na prática esportiva nacional, e 68,3% já presenciaram situações de discriminação em eventos esportivos. Apesar desse cenário, iniciativas inclusivas mostram que a transformação é possível. Por três dias, a USP Leste se tornou palco de inclusão ao sediar a Semana Internacional do Esporte pela Mudança Social (Siems), reunindo ativistas, educadores e atletas para debater os caminhos, e obstáculos, para uma prática esportiva mais justa para a população LGBTQIAPN+.

Falar em diversidade no esporte ainda é, para muitos, um discurso distante da realidade. Embora a ascensão de alguns atletas minoritários nos encha de orgulho, o caminho até o alto rendimento segue marcado por barreiras estruturais profundas. A falta de acesso a espaços de treinamento de qualidade, a escassez de patrocínio, a reprodução de preconceitos e a ausência de políticas inclusivas formam um cenário que limita a entrada, a permanência e a ascensão de atletas de minorias no esporte profissional.

Mesmo assim, há avanços concretos. Segundo o estudo da NIX, os coletivos inclusivos cresceram 32% desde 2020, com iniciativas como o Flamengo LGBTQ+ e a Liga BR de Vôlei LGBTQ+. No âmbito institucional, a Confederação Brasileira de Vôlei passou a incluir cláusulas antidiscriminatórias em seus contratos, enquanto a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) criou um comitê de diversidade, ainda que ações no futebol masculino sigam tímidas. Esses exemplos mostram que mudanças estruturais são possíveis quando há compromisso e ação.

Esse contexto impacta diretamente a representatividade. Quando jovens não se veem refletidos nos que chegam ao topo, o sentimento de pertencimento diminui. E sem pertencimento, é quase impossível sustentar a motivação em uma trajetória esportiva tão exigente. A desigualdade socioeconômica intensifica esse ciclo: sem recursos básicos como equipamentos, treinamentos adequados e apoio financeiro, muitos talentos sequer conseguem iniciar sua jornada. O resultado é evidente: menos diversidade, menos inovação e menos oportunidades de formação de novos ídolos.

Mas o caminho é possível. Investir em diversidade no esporte já tem mostrado resultados concretos: conquistas em competições, fortalecimento de comunidades e maior engajamento do público. Globalmente, práticas inclusivas impulsionam desempenho, inovação e reputação das organizações envolvidas.

É nesse contexto que empresas, patrocinadores e mídia precisam assumir um papel de protagonismo. Mais do que apoiadores pontuais, devem atuar como multiplicadores de impacto, financiando projetos, criando políticas afirmativas, oferecendo visibilidade e sustentando iniciativas que promovam igualdade real. Diversidade no esporte não é apenas uma pauta social, é uma estratégia de marca. Conectar-se a novos públicos, reforçar autenticidade, gerar engajamento e inovação são diferenciais competitivos em um mercado cada vez mais atento a propósito.

Iniciativas como suporte financeiro, mentorias, gestão de carreiras e ações afirmativas em federações e campeonatos, já demonstram impacto positivo. Campanhas institucionais e debates públicos também aceleram mudanças estruturais, combatendo preconceitos e pressionando por políticas mais inclusivas.

Para as marcas que ainda não se comprometeram, a mensagem é clara: o momento é agora. Diversidade não é custo, é investimento em inovação, relevância e sustentabilidade. Ignorar esse movimento significa perder talentos, clientes e oportunidades de crescimento.

Ao observar de perto a realidade de atletas de minorias, é possível compreender como os desafios ultrapassam o campo de jogo. Investir na transformação dessas trajetórias gera resultados que vão muito além de medalhas: esperança, inclusão e mudança social.

Se quisermos um esporte mais justo e representativo, é necessária uma ação coordenada. Cabe a todos, empresas, sociedade, governos e mídia, garantir que nenhum talento seja desperdiçado por falta de oportunidade.

*Stefan Santille é esportista, empresário e especialista em marketing

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