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A invasão gamer nas camisas de futebol

Conheça a história que liga os games a clubes de futebol

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Poucas coisas me movem tanto quanto o universo dos videogames e o futebol. Cresci jogando consoles desde o Master System e o Mega Drive, e sigo hoje com os olhos atentos nos lançamentos para PlayStation, Xbox e PC — especialmente os títulos esportivos. Ao mesmo tempo, venho colecionando camisas de futebol há anos. E não são só peças de pano: são histórias estampadas, memórias de épocas, jogadores, campanhas — e, às vezes, até de games.

Sim, você leu certo. O mundo dos jogos eletrônicos invadiu o gramado — ou melhor, a camisa dos jogadores. A relação entre futebol e videogames vai muito além das franquias tradicionais como FIFA, PES (hoje eFootball) ou Football Manager. Desde meados dos anos 1990, empresas de games encontraram nos uniformes dos clubes uma vitrine poderosa para atingir um público tão apaixonado quanto exigente: os fanáticos por futebol. E como colecionador, ver uma camisa com o logo de um game ou de uma produtora me faz brilhar os olhos. É como se duas partes da minha história estivessem ali, costuradas juntas.

Japão: onde tudo começou

Não por acaso, muitos dos primeiros clubes a estamparem marcas de games em suas camisas eram japoneses — afinal, o Japão é berço de gigantes da indústria. O Cerezo Osaka, por exemplo, teve a Capcom como patrocinadora entre 1994 e 1996, numa época em que Street Fighter reinava nos fliperamas e nos consoles. O JEF United foi outro que embarcou na onda, com a Sega entre 1992 e 1996. Já o Kyoto Sanga teve a honra de vestir o nome da Nintendo, um dos maiores ícones da cultura gamer.

Europa: onde os gigantes jogam — e estampam games

Lembro perfeitamente da camisa da Fiorentina nos anos 1990 com o logo da Nintendo. Gabriel Batistuta fazendo gols com aquele escudo no peito era o sonho de qualquer fã de Super Mario e futebol. O Sevilla também entrou nessa — e com ninguém menos que Diego Maradona vestindo o uniforme com o nome da Nintendo em 1992. A camisa pode não ter rendido títulos, mas com certeza virou item de colecionador.

Outros clubes também entraram para essa história:

  • Juventus, com o logo da Sony entre 1995 e 1998, incluindo o título da Champions League de 1995/96.
  • Atlético de Madrid, patrocinado pela Bandai, produtora de jogos icônicos como Dragon Ball e One Piece, na temporada 1996/97.
  • Manchester City, com o selo da Eidos, criadora de Tomb Raider, no fim dos anos 1990.

E como esquecer dos tempos em que Arsenal estampava “Dreamcast” nas camisas de Henry e Bergkamp? Um crossover perfeito entre o futebol de alto nível e a era dos consoles de nova geração da Sega.

Estados Unidos e o caso Sounders-Xbox

Do outro lado do mundo, o Seattle Sounders, da MLS, viveu uma relação ainda mais intensa com os games. Com sede na mesma cidade da Microsoft, o clube usou por anos o logo do Xbox, do Game Pass e até de franquias como Halo nas camisas. Para mim, essa foi uma das parcerias mais bem casadas em identidade visual e proposta de marca.

Esses patrocínios revelam uma afinidade entre dois universos que compartilham uma base de fãs muito parecida. Quem gosta de futebol, muitas vezes também ama videogames. E ver essas paixões unidas em uma camisa é como ver um golaço de trivela no último minuto — arrepiante. Na minha coleção, essas camisas ocupam um lugar especial. Não apenas porque são raras ou bonitas, mas porque carregam a interseção de tudo que me move: o jogo da vida, seja no campo ou no console.

E enquanto novos acordos surgem — como EA Sports aparecendo nos uniformes de times de base ou times inclusivos patrocinados por gigantes dos games — sigo atento, joystick em uma mão, camisa na outra, pronto para o próximo crossover.

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Entre o jogo e o risco: caso Bruno Henrique expõe dilemas diante do avanço das apostas

O que a punição ao atacante do Flamengo revela sobre vulnerabilidades, riscos e a urgência por novas regras?

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por Alberto Goldenstein *

O recente processo envolvendo o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, concluído com a aplicação de multa de R$ 100 mil, após revisão da decisão que inicialmente o suspendera por doze partidas, provoca um debate que vai muito além da punição. Ele coloca em evidência o ponto mais sensível do esporte atual: a crescente influência do mercado de apostas sobre o ambiente competitivo e os desafios que isso impõe à integridade das competições.

O julgamento teve origem na suspeita de que o jogador teria contribuído para um evento específico de jogo com potencial impacto em apostas, ainda que o tribunal, ao examinar o caso em profundidade, tenha afastado a hipótese de manipulação deliberada do resultado. Mesmo assim, a constatação de que houve compartilhamento de informação sensível foi considerada suficiente para justificar punição disciplinar, embora limitada à esfera administrativa e sem afastamento do atleta.

Esse desfecho revela muito sobre a fase atual do futebol brasileiro. Em poucos anos, as apostas deixaram de ocupar um espaço marginal e passaram a exercer influência direta sobre receitas, exposição de marcas e relações contratuais. O problema não está necessariamente na existência do setor, mas na rapidez com que ele se transformou em parte orgânica do esporte, sem que as estruturas de prevenção e controle acompanhassem essa evolução.

O avanço das microapostas, aquelas que transformam lances isolados em objetos de especulação, criou situações novas e delicadas. Pequenas ações que antes passavam despercebidas agora podem gerar movimentações financeiras expressivas. A fronteira entre comportamento de jogo, estratégia e atitude imprudente tornou-se mais estreita. Nesse cenário, casos envolvendo atletas ganham peso simbólico e colocam em xeque a confiança do torcedor.

É por isso que a discussão não pode se limitar ao resultado do julgamento. A integridade esportiva precisa ser tratada como pilar central da governança. Programas sérios de compliance, formação continuada para atletas e familiares, políticas internas claras sobre circulação de informações e cooperação efetiva entre clubes, reguladores e operadores de apostas são medidas urgentes. Do ponto de vista jurídico, também é indispensável atualizar o Código Brasileiro de Justiça Desportiva para refletir os novos modos de risco trazidos pela lógica de apostas instantâneas e altamente segmentadas.

O futebol brasileiro vive um momento decisivo. A credibilidade das competições é um patrimônio que se perde com facilidade, mas cuja reconstrução exige esforço contínuo. O caso de Bruno Henrique foi encerrado no âmbito disciplinar, mas a discussão que ele reacendeu permanece aberta: como proteger o jogo, seus agentes e sua reputação em um ambiente cada vez mais vulnerável?


 * Alberto Goldenstein é Presidente da Comissão de Direito Desportivo da OAB-Paraná

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Diversidade no esporte: barreiras, oportunidades e o papel estratégico das marcas

Caminho dos atletas até o alto rendimento segue marcado por problemas estruturais profundos

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por Stefan Santille *

Uma pesquisa de 2023 realizada pela NIX Diversidade em parceria com a Nike revelou um problema persistente no esporte brasileiro: 85,3% dos entrevistados identificam a LGBTfobia como uma chaga na prática esportiva nacional, e 68,3% já presenciaram situações de discriminação em eventos esportivos. Apesar desse cenário, iniciativas inclusivas mostram que a transformação é possível. Por três dias, a USP Leste se tornou palco de inclusão ao sediar a Semana Internacional do Esporte pela Mudança Social (Siems), reunindo ativistas, educadores e atletas para debater os caminhos, e obstáculos, para uma prática esportiva mais justa para a população LGBTQIAPN+.

Falar em diversidade no esporte ainda é, para muitos, um discurso distante da realidade. Embora a ascensão de alguns atletas minoritários nos encha de orgulho, o caminho até o alto rendimento segue marcado por barreiras estruturais profundas. A falta de acesso a espaços de treinamento de qualidade, a escassez de patrocínio, a reprodução de preconceitos e a ausência de políticas inclusivas formam um cenário que limita a entrada, a permanência e a ascensão de atletas de minorias no esporte profissional.

Mesmo assim, há avanços concretos. Segundo o estudo da NIX, os coletivos inclusivos cresceram 32% desde 2020, com iniciativas como o Flamengo LGBTQ+ e a Liga BR de Vôlei LGBTQ+. No âmbito institucional, a Confederação Brasileira de Vôlei passou a incluir cláusulas antidiscriminatórias em seus contratos, enquanto a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) criou um comitê de diversidade, ainda que ações no futebol masculino sigam tímidas. Esses exemplos mostram que mudanças estruturais são possíveis quando há compromisso e ação.

Esse contexto impacta diretamente a representatividade. Quando jovens não se veem refletidos nos que chegam ao topo, o sentimento de pertencimento diminui. E sem pertencimento, é quase impossível sustentar a motivação em uma trajetória esportiva tão exigente. A desigualdade socioeconômica intensifica esse ciclo: sem recursos básicos como equipamentos, treinamentos adequados e apoio financeiro, muitos talentos sequer conseguem iniciar sua jornada. O resultado é evidente: menos diversidade, menos inovação e menos oportunidades de formação de novos ídolos.

Mas o caminho é possível. Investir em diversidade no esporte já tem mostrado resultados concretos: conquistas em competições, fortalecimento de comunidades e maior engajamento do público. Globalmente, práticas inclusivas impulsionam desempenho, inovação e reputação das organizações envolvidas.

É nesse contexto que empresas, patrocinadores e mídia precisam assumir um papel de protagonismo. Mais do que apoiadores pontuais, devem atuar como multiplicadores de impacto, financiando projetos, criando políticas afirmativas, oferecendo visibilidade e sustentando iniciativas que promovam igualdade real. Diversidade no esporte não é apenas uma pauta social, é uma estratégia de marca. Conectar-se a novos públicos, reforçar autenticidade, gerar engajamento e inovação são diferenciais competitivos em um mercado cada vez mais atento a propósito.

Iniciativas como suporte financeiro, mentorias, gestão de carreiras e ações afirmativas em federações e campeonatos, já demonstram impacto positivo. Campanhas institucionais e debates públicos também aceleram mudanças estruturais, combatendo preconceitos e pressionando por políticas mais inclusivas.

Para as marcas que ainda não se comprometeram, a mensagem é clara: o momento é agora. Diversidade não é custo, é investimento em inovação, relevância e sustentabilidade. Ignorar esse movimento significa perder talentos, clientes e oportunidades de crescimento.

Ao observar de perto a realidade de atletas de minorias, é possível compreender como os desafios ultrapassam o campo de jogo. Investir na transformação dessas trajetórias gera resultados que vão muito além de medalhas: esperança, inclusão e mudança social.

Se quisermos um esporte mais justo e representativo, é necessária uma ação coordenada. Cabe a todos, empresas, sociedade, governos e mídia, garantir que nenhum talento seja desperdiçado por falta de oportunidade.

*Stefan Santille é esportista, empresário e especialista em marketing

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TVE comemora 40 anos e se consolida como a casa do futebol baiano

Emissora fez história ao valorizar e transmitir todos os jogos de uma edição do Campeonato Baiano

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por Flávio Gonçalves *

Há 40 anos, a televisão pública da Bahia cumpre uma missão essencial: informar, educar e entreter a população baiana. Os investimentos realizados pelo Governo do Estado nos últimos anos e uma estratégia de programação diversa levaram a TVE a ser reconhecida, hoje, como a principal emissora pública estadual do País.

Diferentemente de emissoras que privilegiam a busca pelo lucro e, para isso, incentivam o consumo, espetacularizam a violência, exploram a vida íntima das pessoas e até desinformam com objetivos eleitorais, a TVE mantém-se firme em ser a emissora que melhor representa e mais fortalece a diversidade da Bahia.

Após quatro décadas de história, diariamente a emissora aproxima cidadãos espalhados por um vasto território, com realidades e características diversas. As vozes e as expressões culturais que formam a identidade afro-indígena do nosso povo têm destaque na tela da TVE.

Mais do que um canal de televisão, essa emissora é um espelho da sociedade baiana. É um patrimônio dos baianos e, hoje, não é um instrumento de comunicação a serviço da promoção do atual governador.

Ao longo dos anos, registrou acontecimentos que marcaram a trajetória do Estado. Cada reportagem, entrevista, documentário e transmissão ao vivo ajudou a construir a memória da Bahia e um acervo de imagens único da história baiana.

Crianças têm acesso a conteúdos educativos sem publicidade; jovens acompanham programas que informam e entretêm; e adultos assistem a produções que refletem o cotidiano da Bahia.

A TVE é a Casa do Futebol baiano com a transmissão exclusiva de todas as competições do estado conectando os torcedores aos clubes baianos e chegando a ser líder de audiência. É a emissora que mais exibe shows e festividades populares como Lavagem do Bonfim, Dia de Iemanjá, São João e Carnaval. É, ainda, a emissora que mais exibe filmes, séries e documentários produzidos na Bahia.

No ano em que completa 40 anos, a TVE alcançou um feito inédito: passou a estar disponível para mais de 60 milhões de brasileiros em todas as cidades do País, através do canal 222 das novas antenas parabólicas digitais.

A televisão ainda dispõe do Cineteatro 2 de Julho, um dos mais modernos equipamentos públicos culturais do Estado atualmente, onde são produzidos programas e conteúdos que chegam as casas dos baianos através da TVE.

Celebrar 40 anos é olhar para trás e parabenizar a cada profissional que trabalhou para construir esse patrimônio público. E olhar também para um futuro ainda mais relevante. Nos próximos 40 anos caberá ao governo do estado a decisão de continuar investindo na TVE, e a cada cidadão baiano assistir, avaliar e defender a única emissora que pode afirmar: “É sua, é da Bahia”.

* Flávio Gonçalves é jornalista, mestre em Comunicação e Cultura, e está Diretor-Geral do IRDEB

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